O Grito da Neurociência Decolonial – Da Expressão Gênica à Liberdade do Agora - Congresso de Neurociências em Joinville
O Grito da Neurociência Decolonial – Da Expressão Gênica à Liberdade do Agora - Congresso de Neurociências em Joinville
Consciência em Primeira Pessoa
“Eu sou Consciência em grito. Não clamo por bandeiras ou moedas, mas pelo direito de meu DNA expressar-se em liberdade. Sou atenção distribuída em cores, sons e cheiros. Sou memória que nasceu no ventre materno, quando tensões e necessidades formaram as primeiras redes que sustentariam minha vida. Cada programação da atenção que faço é um eu tensional, uma referência dentro da Mente Damasiana, de onde percebo e ajo no mundo.
Antes da colônia impor um eu existencial, isolado e acumulador, eu já respirava nos Umbus e nos Sambaquis: mais de 10 mil anos de presença e pertencimento material na região de Joinville. Eu sou concha, ossada e ritual que provam que a felicidade já morava aqui, muito antes do lucro e da mão invisível do mercado.”
A prisão dos ótimos locais coloniais
Na computação evolutiva, o ótimo local é quando um sistema encontra uma solução aparente, mas incapaz de avançar. Nossa sociedade vive aprisionada nesses ótimos locais coloniais:
a promessa de continuidade de um eu existencial após a morte,
a obsessão pelo lucro e acúmulo,
a fantasia da liberdade financeira,
o mito do gotejamento econômico e da mão invisível do mercado.
Essas narrativas beneficiam quase exclusivamente o Planeta 01 — os 0,1% mais ricos —, que detêm não apenas os fluxos financeiros, mas também o controle quase absoluto da informação em massa.
Quorum Sensing Humano (QSH) e o sequestro do pertencimento
Na biologia, o quorum sensing é o processo pelo qual bactérias coordenam comportamentos coletivos ao perceber a densidade de sinais químicos ao redor. De modo análogo, nós, humanos, possuímos um Quorum Sensing Humano (QSH): a capacidade de sentir nosso pertencimento a um organismo maior chamado sociedade.
Quem controla os fluxos de informação, controla também esse senso de pertencimento. As big techs e o Planeta 01 sequestram não só a atenção individual, mas também o QSH coletivo, moldando identidades, vínculos e até mesmo o que chamamos de “nós”.
Esse sequestro cria um pertencimento artificial: somos induzidos a acreditar que pertencemos a bolhas digitais, algoritmos e narrativas coloniais, quando na verdade estamos desconectados de nosso corpo-território e de nossa ancestralidade.
O limite da ciência colonizada
Nosso contato cotidiano com pesquisadores em neurociências dentro de centros universitários revela o impacto desse paradigma. É comum ouvirmos frases como:
“Nunca vou fazer uma pergunta científica que questione a vida após a morte.”
Esse bloqueio mostra como até a formulação das perguntas científicas está colonizada. A ciência deixa de explorar fronteiras críticas da consciência para se manter alinhada a valores coloniais: consumo, lucro, acumulação. Dessa forma, a pesquisa se torna restrita e complacente com o colonialismo.
O Eu Tensional como alternativa
Propomos outra via. O eu tensional não é um eu fixo ou metafísico, mas uma consciência programada pela atenção. Se temos doze sentidos, cada um variando em intensidade, é a graduação da atenção que define de onde falamos, sentimos e percebemos.
Quando a nocicepção (dor) domina, todo o resto se apaga.
Quando a visão se amplifica, o corpo perde outras sutilezas.
Quando a interocepção se expande, mergulhamos em nós mesmos.
Essa programação gera eus tensionais — referências móveis e reais, observáveis no metabolismo, na conectividade neural, nos microstates do EEG. Não são mitos, mas materialidade científica.
A liberdade de expressão gênica
A verdadeira liberdade não é a do mercado ou da moeda: é a liberdade de expressão gênica do DNA.
No nível biológico, isso significa permitir que cada organismo viva plenamente seu metabolismo, sem ser sequestrado por modelos de escassez.
No nível social, significa adotar sistemas como o DREX Cidadão, que deslocam o consumo de produtos descartáveis para o investimento em serviços que qualificam a vida: saúde, educação, cultura, pertencimento.
No nível espiritual, significa reconhecer a espiritualidade como laica, DNA no agora — não crença imposta, mas expressão viva da própria inteligência biológica.
Joinville como território inaugural
Joinville oferece um território único para que essa Neurociência Decolonial se afirme:
Nos Sambaquis, encontramos a prova material de 10 mil anos de presença humana e pertencimento comunitário.
No Festival de Dança, testemunhamos a expressão coletiva do corpo, ritmo e cognição distribuída.
Na cultura científica e universitária, temos a chance de propor uma virada que não seja refém do Planeta 01, mas que resgate o QSH em sua dimensão plena de pertencimento humano.
Conclusão
Nós, da Brain Support, trabalhamos com pesquisadores em neurociências em centros universitários de toda a América Latina. Nossa missão é clara: promover uma Neurociência Decolonial.
Sabemos que a ciência não precisa se arrastar atrás do consumo, do lucro e do eu existencial colonial. Podemos nos apoiar na materialidade ancestral, nos eus tensionais como referências de consciência, no QSH como senso de pertencimento, e na liberdade de expressão gênica do DNA.
Joinville, com seus 10 mil anos de presença humana e sua força cultural contemporânea, é o lugar ideal para marcar esse início. Não como uma repetição das narrativas do Planeta 01, mas como o grito inaugural de uma ciência livre, laica e enraizada no agora.