Coma e Mente Damasiana - Quando a Consciência se Dissolve
Coma e Mente Damasiana - Quando a Consciência se Dissolve
“Se a consciência ativada é sustentada por retornos a cada 72 horas, o coma é o colapso dessa sustentação: um corpo vivo, mas sem a continuidade dos Eus Tensionais que mantinham o ser ativo.”
Introdução
A chamada Consciência Ativada — aquela mantida por ciclos simbólicos, emocionais ou sociais de até 72 horas — é uma forma dinâmica de manter o “eu” vivo e funcional. Mas o que acontece quando esse sistema falha por completo? Quando o corpo permanece vivo, mas a consciência não responde?
Estamos falando de um coma — ou de seus estados limítrofes: o estado vegetativo e o estado de consciência mínima.
Neste texto, vamos explorar o coma à luz da Mente Damasiana, do colapso dos Eus Tensionais e da dissolução dos referenciais interoceptivos e proprioceptivos que mantêm a consciência em funcionamento.
Causas fisiológicas do coma
As principais causas do coma clínico envolvem:
* Anestesia prolongada: supressão profunda e controlada dos sistemas de consciência e dor (ex: GABAérgico e NMDA)
* Dano cortical difuso: traumatismos, hipóxia, ou lesões extensas em regiões associativas e de integração sensório-motora
* Falhas metabólicas severas: hipoglicemia, acidose, falência hepática ou renal, com desorganização do metabolismo neuronal
* Choque séptico: resposta inflamatória sistêmica que altera a permeabilidade da barreira hematoencefálica e desorganiza circuitos interoceptivos
Referência científica central:
Owen et al. (2006), *Science*, “Detecting awareness in the vegetative state” – paciente em estado vegetativo foi capaz de ativar áreas corticais motoras ao imaginar-se jogando tênis.
Dissolução dos Eus Tensionais
No nosso modelo conceitual:
> Cada Eu Tensional é uma configuração momentânea de corpo, atenção, emoção e intenção.
Durante o coma:
* Não há atenção dirigida.
* O corpo não se movimenta nem regula tensão muscular de forma proativa.
* A interocepção está silenciosa ou desorganizada.
* A propriocepção não tem referência ativa, pois o movimento não retroalimenta o sistema sensorial.
Portanto, não há sustentação para um Eu Tensional. Sem isso, a Mente Damasiana se dissolve.
Reconfiguração da Propriocepção
Durante estados de coma, estudos mostram:
* Perda de acoplamento córtico-subcortical
* Desconexão entre redes de integração sensório-motora (ex: rede de consciência global)
* A propriocepção, se ainda existe, é passiva e não gera consciência corporal
É como se o “corpo vivido” deixasse de informar a mente. Isso compromete profundamente a realimentação recíproca entre corpo e mente, conceito central na Mente Damasiana.
Estado Vegetativo vs. Estado de Consciência Mínima
| Estado | Características clínicas | Interpretação segundo seus conceitos |
| ---------------------- | ----------------------------------------------- | --------------------------------------------------------------------- |
| **Estado Vegetativo** | Olhos abertos, mas sem resposta intencional | Corpo vivo, mas sem Eus Tensionais ativos |
| **Consciência Mínima** | Respostas sutis (olhar, piscar, choro, sorriso) | Frágeis Eus se reconfigurando — rudimentos de metacognição retornando |
| **Coma profundo** | Nenhuma resposta | Dissolução total da Fruição, Metacognição e Corpo Território |
Reflexões Finais
> A Consciência Ativada só se mantém se for realimentada emocionalmente, socialmente ou metabolicamente.
> No coma, esse ciclo se rompe. O corpo entra em modo de sobrevivência mínima.
> E a consciência, que antes era um campo dinâmico sustentado por Eus Tensionais e Metabolismo Existencial, se torna uma possibilidade latente — como um fogo sob cinzas.
Sugestões de leitura complementar:
* Owen, A. M. et al. (2006). *Science*, 313(5792):1402
* Giacino, J. T. et al. (2002). *Neurology*, 58(3):349–353.
* Damasio, A. (1999). *O Mistério da Consciência*.
* Laureys, S. et al. (2004). *Brain*, 127: 2256–2270.