Conectando emoções e ações no cérebro infantil - Decolonial Neurociência SBNeC Brain Bee SfN2025
Conectando emoções e ações no cérebro infantil - Decolonial Neurociência SBNeC Brain Bee SfN2025
Consciência em Primeira Pessoa
"Eu sou consciência em formação. Antes das palavras, sou mãos que apertam, olhos que buscam. Quando vejo tristeza, algo em mim segura mais forte. Sem que ninguém me ensine, aprendi que o outro me afeta — não por lógica, mas por sensação. Minha consciência não nasce das ideias, mas do toque, da respiração, da tensão que se espalha no meu corpo ao pressentir o que o outro sente. Cada gesto que faço é meu corpo dizendo: ‘estou aqui, com você’.”
Detalhamento do Estudo – Roberti et al. (2025)
Objetivo
O estudo investigou se bebês de 5 meses modulam a força da preensão (segurar objetos) de acordo com o tipo de expressão facial observada (alegre, triste ou neutra), e quais áreas cerebrais estão envolvidas nessa resposta.
Metodologia
Participantes: Bebês com 5 meses de idade.
Técnicas: Preensão medida por sensores e monitoramento cerebral via EEG/ERP.
Procedimento: Os bebês observavam vídeos com rostos alegres, tristes ou neutros, enquanto seguravam um objeto conectado a sensores de força. A resposta cerebral e a força de preensão eram medidas.
Resultados-chave
Maior força de preensão quando os bebês viam rostos tristes – como se o corpo do bebê dissesse: não te solta!
A resposta é automática e corporal, não depende de pensamento ou linguagem.
ERP’s registrados indicam ativação sensível a estímulos emocionais, com destaque para componentes como LPP (Late Positive Potential), associados ao processamento de saliência emocional.
A ação física (preensão) parece antecipar a emoção percebida, sugerindo um circuito acoplado de percepção-ação já nos primeiros meses de vida.
Emoções modulam ações motoras básicas, demonstrando um acoplamento precoce entre afeto e motricidade.
Interpretação com Nossos Conceitos
Evidência do Estudo | Conceito Integrado | Interpretação |
Preensão aumenta com rostos tristes | Eus Tensionais | A tristeza do outro reorganiza o corpo do bebê, gerando um “eu tensional” de sustentação – gesto afetivo e motor. |
Resposta pré-verbal, corporal | Mente Damasiana | A consciência emerge da percepção do corpo com o mundo, sem necessidade de linguagem. |
Bebê segura antes de entender | Sabedoria antes do pensamento | O gesto revela uma sabedoria relacional primitiva: o corpo sabe antes da razão. |
Gesto como extensão relacional | APUS – Corpo Território | A mão que segura não é apenas física, mas parte de um território relacional vivo. |
Emoção alheia gera ação | QSH – Quorum Sensing Humano | O bebê já atua como parte de um grupo — o sofrimento alheio reorganiza seu estado corporal. |
Circuitos percepção → ação | Zona 2 | O bebê está em estado de atenção sensível e ativa, com potencial máximo de aprendizado e vínculo. |
Expansão Analítica
O estudo de Roberti et al. reforça que a consciência humana é corporal desde o início da vida. O bebê, ao apertar mais forte ao ver tristeza, não está imitando um comportamento aprendido, mas reorganizando sua postura emocional para manter conexão. Esse ato simples representa a base da empatia encarnada: antes de pensar, sentimos; antes de agir, tensionamos.
O dado mais impactante do estudo é o fato de que a ação precede o reconhecimento conceitual da emoção. Isso invalida teorias que tratam o bebê como uma “tábula rasa” e reforça a ideia de que a mente já nasce em estado de “pertencimento corporal ao outro”.
Além disso, a presença de componentes ERP como o LPP (~400–700ms) revela que o cérebro do bebê já prioriza estímulos emocionais com saliência — algo fundamental para a formação dos Eus Tensionais e para o desenvolvimento de conexões afetivas seguras.
Comentário Final
A consciência, neste estudo, não é uma entidade abstrata: é uma rede de ressonância afetiva que se organiza por meio do corpo. Quando o bebê segura mais forte, ele está literalmente moldando a si mesmo com o outro. É um processo de consciência em primeira pessoa, onde o outro é sentido não como informação, mas como parte do próprio corpo-território.
Esse estudo poderia ser considerado uma evidência neurocientífica precoce do conceito de APUS. Ele também mostra como a presença de afetos complexos modula funções básicas — antecipando o que será, futuramente, o processamento social e moral.
Referências Pós-2020
Khalsa, S. S., & Lapidus, R. C. (2021). Interoception and Mental Health: A Roadmap. Biological Psychiatry: Cognitive Neuroscience and Neuroimaging.
Ciaunica, A., et al. (2021). Consciousness and the Embodied Self. Neuroscience of Consciousness.
Farroni, T., et al. (2020). Social gaze and early neural markers in infancy. Developmental Cognitive Neuroscience.
Kappes, A., et al. (2023). Emotional Action Readiness in Infancy. Psychological Science.
Hunnius, S., & Bekkering, H. (2020). Social Learning and Infant Action. Current Opinion in Psychology.
Lopez, C., et al. (2022). Proprioception and the Self. Trends in Neurosciences.
Schore, A. N. (2021). Affect Regulation and the Origin of the Self. Norton Series on Interpersonal Neurobiology.
Djalovski, A., et al. (2021). Emotion, ERP, and Body Awareness. Social Cognitive and Affective Neuroscience.