Jackson Cionek
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Sandman e as Fases do Sono - uma Ampliação Científica

Sandman e as Fases do Sono - uma Ampliação Científica

N1 – O limiar dos sonhos: fragmentos e processamento ainda ativo

  • Estudos recentes demonstram que ainda estamos aptos a processar estímulos externos com alto nível cognitivo mesmo durante o sono, especialmente nas fases iniciais do sono NREM (incluindo N1)

  • Na perspectiva psicolinguística, isso ecoa o processamento de palavras e expectativas sintáticas que ainda permanecem ativos, mesmo que fragmentados, na fronteira entre vigília e sonho.

  • Sandman abre uma primeira janela tênue: a consciência fica entrelaçada entre percepção e suspensão sintática.


N2 – O mundo entre sonhos: linguagem enviesada em transição

  • A pesquisa sobre “decision-making during sleep” mostra que em diferentes estágios do sono (como N2), os mecanismos cognitivos associados à tomada de decisões são reconfigurados de forma específica

  • Como na teoria de Marcus Maia, em que unidades sintáticas estruturam sentido e expectativa, aqui emergem construções ensaiadas, carregadas de desvios semânticos ou “metáforas internas”.

  • O Sandman fecha parcialmente as cortinas, o significado escorrega pela gramática, e encontramos assemelhanças com falhas narrativas ou semióticas dos sonhos.


N3 – Sono profundo: silêncio da gramática e consolidação

  • Focos atuais sobre consolidação de memória mostram que durante o sono NREM profundo (N3), ocorrem replays neurais coordenados (spindles, ripples, slow waves) que suportam a consolidação de memórias declarativas

  • A “ideia gramatical” se retira: não há mais unidades sintáticas ativas, apenas rastro de memórias sendo reordenadas em níveis mais profundos.

  • O Sandman leva-nos ao vazio estrutural. A consciência se torna corpo-território, sem construtos linguísticos ativos — uma pausa sintática necessária para a reorganização interna.


REM Tônico – Gramática criativa e corrente elétrica da narrativa

  • O sono REM é associado à intensa atividade cerebral, comparável ou até superior à vigília em regiões como hipocampo, córtex temporal-occipital e sistema límbico

  • Ondas PGO (ponto-geniculo-occipital) propagam-se do tronco cerebral ao córtex visual, preparando terreno para a construção de sonhos vívidos

  • A sintaxe reaparece, porém livre das amarras da lógica comum — mais poética do que proposicional.

  • O Sandman abre o palco, e a gramática torna-se dramaturgia: completa mas desvinculada da coerência usual.


REM Fásico – Gramática poética do inconsciente

  • Nesta fase, sonhos intensos emergem com riqueza emocional e simbólica. O REM é crucial também para memória procedural e a solução criativa de problemas

  • O Sandman deixa as cortinas escancaradas: a gramática se transforma em poesia interior, signos que apontam para mundos semânticos tão profundos quanto irracionais.

  • A consciência fragmenta-se em múltiplos eus narrativos — uma semiose onírica emergente das forças inconscientes.


Visão Integrada com Marcus Maia

  1. Gramática como estrutura emergente e funcional — Mesmo no sono, nossa mente recria unidades sintáticas, mas com diferentes prioridades: expectativa (N1), desconstrução (N2), silêncio (N3), criatividade (REM tônico), fragmentação poética (REM fásico).

  2. Unidade semiótica e cognição — A “ideia” resiste como traço cognitivo, reemergindo de formas deslocadas, reinventadas pelas ondas cerebrais específicas de cada fase.

  3. Psicolinguística experimental e sono — O processamento linguístico persiste, em nichos, mesmo nos estágios mais profundos do sono: desde decisões automáticas até replays de memória e criação emocional.


Tabela-resumo

Fase do Sono

Atividade Sintática / Cognitiva

Papel do “Sandman”

N1

Processamento fragmentado de estímulos

Janela tênue de percepção

N2

Gramática enviesada, desvios semânticos

Cortinas parcialmente fechadas

N3

Silêncio gramatical, consolidação interna

Consciência corporal, silêncio estrutural

REM Tônico

Sintaxe criativa, atividade onírica viva

Palco aberto para narrativa interna

REM Fásico

Poética inconsciente, múltiplos eus

Cortinas escancaradas, semiótica poética


Referências:

  • Maia, M. (2006). Psicolinguística e ensino de gramática. In: Bagno, M. (org.), Lingüística da Norma. Loyola.

  • Maia, M. (2012). Psicolinguística: uma introdução. São Paulo: Contexto.


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Jackson Cionek

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