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Os astrócitos como heróis e não os neurônios! Como pesquisadores estão tornando o cérebro imune à células cancerígenas

Por séculos acreditou-se que os neurônios eram as células mais importantes e fundamentais para o sistema nervoso, esses eram os astros principais de um cenário harmonicamente perfeito, enquanto isso, as células da glia atuavam apenas como meros coadjuvantes quase imperceptíveis aos olhos humanos. Entretanto, cientistas têm modificado suas hipóteses e redirecionado seus holofotes para células nunca antes apreciadas aos pesquisadores, os astrócitos.

Os astrócitos assim como as células de Schwann, oligodendrócitos, células ependimárias e as microglias, constituem o grupo de células neuronais conhecidos por células da glia. Responsáveis principalmente por impedir a entrada de microorganismo pela barreira hematoencefálica em seu estado reativo, os astrócitos, são as células mais abundantes do sistema nervoso central e recebem esse nome pois tem o formato de uma estrela. Além de estarem aderidas aos vasos sanguíneos que constitui a barreira hematoencefálica fornecendo uma proteção imunológica a todo sistema nervoso, os astrócitos também desempenham outras funções que são relevantes, tais como, regulação homeostática de íons (em especial do potássio) e regulação dos neurotransmissores na fenda sináptica. 

Um grupo de pesquisadores liderado por Manuel Valiente, diretor do Grupo de Pesquisa de Metástase Cerebral do Centro Nacional de Pesquisa do Câncer da Espanha publicou na Nature Medicine um estudo de grande relevância científica  que visa impactar a humanidade. Em seu estudo intitulado “STAT3 labels a subpopulation of reactive astrocytes required for brain metastasis, o grupo de pesquisadores afirmam ter encontrado uma maneira para impedir o avanço de células cancerígenas no cérebro humano, impedindo assim sua metástase e prolongando a vida desses pacientes. 

A metástase cerebral para muitos é uma assinatura de morte. Muito embora o cérebro seja um ambiente hostil para o desenvolvimento de tumores malignos e sua metástase, mesmo assim, afeta milhares de pessoas mundialmente. Pacientes com metástase cerebral geralmente são decorrente de tumores primário de câncer de pulmão e mama, Pesquisadores explicam que 1 a cada 99 células tumorais conseguem atingir o cérebro e se multiplicarem. Os principais fatores que impedem células tumorais de desenvolverem no cérebro são a barreira hematoencefálica e a baixa quantidade de nutrientes, uma vez que, os neurônios absorvem a maioria dos nutrientes para servir como fonte energética. 

Entretanto, ao atingirem o cérebro, essas células tumorais são capazes de resistir e sobreviver. O sistema imunológico na tentativa de combatê-los, as encapsulam, e essa é a principal estratégia de contra ataque das células tumorais. O grupo do pesquisador Valiente descobriu que as células carcinogênicas ativa o gene STAT3 dos astrócitos, que por sua vez, inibe a ação dos astrócitos. Dessa maneira, há uma diminuição do sistema imunológico na barreira hematoencefálica e um microambiente perfeito para a proliferação das células tumorais e instalação da metástase. 

Para tanto, o grupo de pesquisadores descobriram que um composto sintético conhecido como Silibinina é capaz de desativar a proteína STAT3, que portanto, provocaria uma desaceleração do processo de metástase e um aumento no tempo de vida desses pacientes. 

O estudo contou com 18 pacientes com metástase cerebral. Segundo os pesquisadores, a substância quadruplicou o tempo de vida de alguns dos paciente, prolongando o tempo de sobrevida para 15 meses. Enquanto o grupo controle que recebia tratamento convencional apresentou uma sobrevida de 4 meses. O estudo dá esperança aos pacientes que sofrem com essa doença, bem como, a um novo futuro para a humanidade.
 
Referência:
 
  1. Adrialdo José Santos, Clélia Maria Ribeiro Franco, Lia Raquel Rodrigues Borges, Suzana Maria Fleury Malheiros, Alberto Alain Gabbai. Metástases Cerebrais. Retirado de: 

    http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2001/RN%2009%2001/Pages%20from%20RN%2009%2001-6.pdf







Tassia Nunes










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